segunda-feira, 22 de outubro de 2007

90 - Será que não mesmo?

Viver não dói
(Carlos Drummond de Andrade)

"Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer. Apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê? Por que automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."

"Se iludindo menos e vivendo mais"... Claro!!! Simples assim, né? Não sei como não pensei nisso antes! Rs... Tá bom, Drummond! Sempre adorei o que você escreve e não acho que dessa vez você tenha escrevido (ou seria escrito?) algo errado... Só queria saber como que faço pra fazer isso! Rs... Se me iludo todo santo dia, mesmo estando tão descrente do ser humano, da humanidade; mesmo me sentindo a cada dia mais e mais uma E.T., alguém que não pertence a esse mundo... Uma desiludida da vida que se ilude mais e mais a cada dia. Uma descrente da humanidade que ainda acredita nela... Dá pra entender? Vai entender...

Desconfio seriamente que não sou daqui...

Continuo lembrando dos filmes que eu nunca vi... sentindo saudades de tudo que eu ainda não vi... Aff!

Um comentário:

Atriz disse...

Lindo o texto!!!!
Maravilhoso!!!!

vc me fez lembar de meu amigo que vive dizendo q ele não é deste mundo....que ele não deveria estar aqui.,...rsss

é.....se olharmos à nossa volta, perceberemos tantas coisas que chegamos mesmo a pensar(e até a acreditar) que não somos daqui,,,,
beijo!!! Gisele